Com traços tipicamente mediterrânicos, vim a este mundo. Não serei um verdadeiro espécime de homem mediterrânico, serei talvez um híbrido entre a tez escura dos mouros e a tez alva dos bárbaros, povos que outrora dominaram o nosso cantinho à beira-mar. Com olhos castanhos, quase pretos (que não espelham a minha alma), escondidos atrás de uns óculos, cabelo castanho-escuro, num penteado despenteado “à la Beatles”, e barba negra cerrada, existente não como fruto de uma liberdade estética, mas sim fruto de uma preguiça que me assola todas as manhãs ao arrastar-me para fora da cama, enfrento os olhares dirigidos à minha pessoa. O meu nariz não será grande orgulho, mas será grande, assim como a minha boca, que se abre num sorriso quase de orelha a orelha (quase, pois a totalidade seria uma patologia). O meu queixo apresenta uma linha definida, típica do homem latino e que lhe confere uma imponência fora do comum. Obviamente que estou apenas descrevendo o rosto, o frontispício, a primeira zona de contacto com os outros.
Seguidamente, as pessoas tendem a avaliar o resto do conjunto. Aqui, começam as verdadeiras diferenças para o homem mediterrânico, o “macho latino”. Com um metro e oitenta centímetros, sou ligeiramente mais alto que a maioria dos meus conterrâneos. Contudo, essa minha altura ligeiramente superior não é acompanhada pelo resto de corpo, em termos de desenvolvimento muscular. Não que eu seja um magricelas, um palito. Pelo contrário, começo a ganhar uma barriga (pequenina ainda), pouco saudável para a minha idade, mas bastante natural para a nossa sociedade. Sou um rapaz bastante alvo, levando várias pessoas a pensar que estou constantemente maldisposto ou que sofro de anemia. Tenho umas mãos longas, com dedos finos, próprios de um pianista, mas desperdiçados em mim, que não possuo o dom de teclar as peças do piano ou qualquer instrumento dele derivado. A minha aparência poderá ser resumida nestas características, apesar de as partes não fazerem o todo. Não obstante, existe uma característica que eu considero que se destaca, que efectivamente me torna diferente: a minha ligeira curvatura em direcção ao solo, vulgo, corcunda.
Não falo de uma corcunda gigante, uma corcunda em miniatura, mais fruto de uma condicionante psicológica do que física. Porque estas estão intimamente ligadas. Assim, a minha curvatura será uma protecção, uma forma de fugir a várias mágoas que são inevitáveis ao longo da nossa vida. Não é, nem de longe nem de perto, a característica de que mais me orgulho. Mas é, a meu ver, a que melhor me representa. Porque mostra o poder da mente sobre o corpo, as ligeiras fugas de informação subconsciente que brotam até à superfície do nosso corpo. Porque me mostra, sem eu me aperceber, aquilo que sou e o que sinto. Ou isso, ou será um problema de costas.
E eu que pensava que a situação era derivada da falta de musculatura. Afinal, a defciente curvatura da cervical, de que também sou portador, resulta das fugas desse tal fluido do subconsciente de que falas.
ResponderExcluirés soberbo ( e eu que pensava que até escrevia bem...)