domingo, 26 de outubro de 2014

Pequeno sentimento encardido



Está frio.
Disperso sentimento de imobilidade,
Perpetuado pela falha total de tudo quanto me carrega.
Limbo desnecessário e exasperante,
Destinado sem qualquer mágoa a essa queda anunciada,
Existência apagada e um sopro que conforte a alma.
Gritante tristeza errónea,
Aos céus dirigida em jeito de clamor ou de desabafo,
Fugaz falta de ar que assola o cérebro,
E um aperto no sentido da saudade,
Daquela altura em que o riso ecoava e não incomodava
E que tudo fazia sentido, nunca desfazendo o mistério da vida.
E tudo são iscos e teias e amarras,
Fado malvado e zombante.
Que do Mundo nada levas,
A não ser aquilo que nunca trouxeste contigo.

domingo, 19 de outubro de 2014

Considerações sobre a vida moderna e cosmopolita

Almofada fria.
Cara lavada e sumo.
Notícias de não sei quê sobre tudo.
Uma festinha ao cão e uma tranca na porta.
Carro, primeira e andar.
Sono que ficou por curar
E músicas que não interessam a ninguém.
Trabalho.
Acenar, sorrir e teclar.
Um zumbido incessante.
Aquela miúda que me faz olhinhos.
Um sorriso e até à próxima.
Um jantar, um café e um cigarro com os amigos.
Gargalhadas e abraços.
(Somos todos iguais)
Carro, primeira e ando.
Notícias sobre nada.
Um copo de água.
A almofada ainda fria.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quebradiço

Quebradiço.
Frágil mágoa te quebra,
Vidro estalado de saudade lacrado.
No contra-tempo incessante
Do murmúrio debilitante
Que rege a sombria razão,
Sobeja a ânsia do ardor,
Acalenta o espírito a ténue linha,
O fio fino que uiva com os ventos,
Esses mesmos ventos, soprados por Tanátos.
Olímpica lágrima que trilhas caminhos,
Não apagues a chama que de ti foi roubada
E cessa em ti mesma a mágoa,
Frágil mágoa,
Quebradica.