segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mundos

Com disputas emocionais,
Tu me trouxeste,
De um Mundo que eu amava,
Para uma realidade tão pérfida,
Tão realmente surreal.

Os dados lançados,
Viciados no seu resultado,
Mostraram o que temia,
Este fado tão injusto
Pelo qual não lutei...

Sim, fujo deste teu Mundo,
Desta tua criação,
Inútil na sua função,
Atormentando os meus passos
Com actos perdidos...

Metonímicas ideias

Metonímicas ideias
Que me escapam,
Por relances do canto do olho,
Das emoções reais...

Pensa-se e não se atinge.
Aquilo que queremos não chega.
A decisão é difusa,
Inútil na sua chegada..

Com mãos delicadas,
Gestos mimosos,
A mentira embala
Os nossos medos ominosos.

Ah, para quê a razão?
Sejamos irracionais imundos,
Sigamos o coração...

A carta

A carta chegou...
Toquei o envelope,
Banhado na doce fragrância
Do teu afastado ser...

Era áspera, rugosa,
Agressivamente trazendo
Palavras de incerta natureza,
Que eu tenho medo de ouvir.

Olhei o papel...
Intacto o coloquei
Na mesa de cabeceira
Do nosso outrora templo...

Ansiei o teu retorno,
Em carne ou essência...
Chegaste e vacilo...
A incerteza abrilhanta os meus passos.

Escolho o caminho mais fácil...
Memórias que suplantam
Realidades dolorosas.
Prefiro o calor da tua ausência.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sonhar não custa

Sonhar não custa...
Sob o doce embalo
Dos pensamentos esguios,
A felicidade nunca tarda...

Sonhar não custa...
Revivendo momentos falsos
Em locais verdadeiros,
O sorriso é garantido.

Sonhar não custa...
Em criações desmedidas,
O desejo é projectado
Como imagens deliciosas.

Sonhar custa...
Abrir os olhos e saber
Que nada disto alguma vez aconteceu.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A emoção que fugiu

A emoção que fugiu,
A interpretação que escapou
Pelo canto do olho
Faz agora falta.

O puzzle quebrou
E as peças mudaram.
Sento-me, agora,
Meditando sobre o desaparecido.

Perene és, perene serás,
Nesta vida que não te permite
Parar e simplesmente
Apreciar a paragem.

Ah, pudera eu ser parado
E voar, transgredir,
Descansando em bicos de pés...

Sono

Ponho-me a pensar,
A dissertar sobre coisas vagas,
Esquecendo que este vago presente
Me foge dos dedos enrugados.

Os dias seguem-se
Como flashes condensados
De emoção e conhecimento
Que me passam ao lado.

Seguro apenas
De que o sono
Me levará ao teu Mundo.

Em passos solitários

Em passos solitários,
Medito as complexidades dos dois,
Da união tão adiada,
Da supressão voluntária da felicidade.

Saber que há mais,
Que lá poderíamos chegar
Se apenas quiséssemos,
Se abandonássemos o nada pelo tudo...

Mas tudo nos afasta invariavelmente.
Condenados a carregar o peso
De uma solitude emocional,
Por medo, por vergonha...

Seremos sós,
Individuais na nossa essência...
Seremos incompletos,
Inúteis na nossa existência.

Que sou?

Que sou?
Um recipiente de
Falsas esperanças
E ideias inacabadas.

Não sei o que sou...
Talvez um despojo
De uma realidade superior
Que não me quis.

Aqui estou...
Deitado num remoinho
De realidades fugidias
E felicidades perdidas.

Que sou?
Um vaso de dúvidas,
De frustrações...
Sou um nada incompleto.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Querer

Não sou o que quero.
Não creio no que acredito.
Sou infinitamente falso,
Errado na minha essência.

Creio no que não quero,
Sigo o que não peço.
Debato-me com o nada,
Sacrificando para isso, o tudo.

Buscamos a verdade...
Que verdade?
Fechamos os olhos
E abraçamos o infinito...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por palavras te trouxe

Por palavras te trouxe,
Por palavras te afastei.

Num murmúrio apagado,
Tento justificar o impossível,
Remediar o ferido.
Com lamentos que te parecerão inúteis,
Revivo palavras, gestos,
Actos são irremediavelmente perdidos.

Sujei algo de tão belo,
Com impulsos tão animais,
Com explosões tão injustas,
De mágoas tão reprimidas.
Sem o querer,
Fui o que não queria.

Estás agora longe.
Inacessível na tua concha,
Que eu ajudei a fechar.
Bato à porta, tentado justificar,
Explicar que fui injusto,
Tão perfidamente injusto.

Obtenho apenas frio.
Inexistência declarada.
Ah, as palavras são tão imperfeitas
E eu tão impuro.
Quero sentir o teu doce respirar
E saber, se somos o que fomos.

Por palavras te trouxe,
Por palavras te afastei...


P.S: Nunca dediquei poemas a ninguém neste meu confessionário emocional, mas nunca é tarde para começar. Isto é dedicado a quem magoei, com atitudes despropositadas e tão irremediavelmente impulsivas. Faço agora esforços, por recuperar o que fui, o que fomos...

Foi naquele dia

Foi naquele dia,
Naquela estação,
Que, com amarguras empacotadas,
Virei costas ao infinito.

Olhei para trás,
Tentei apanhar uma réstia de saudade,
De nostalgia culpada...
Mas já não existe...

Em leves tons de sépia,
A minha fronte endureceu.
O casaco voou,
Embalado numa morna brisa.

Os carris fundiam-se
Numa ilusão romântica.
Os clamores e as lágrimas das despedidas
Eram-me indiferentes.

As lágrimas escorrem agora,
Da minha face fustigada pela incerteza.
Estou numa encruzilhada,
Com decisões igualmente dolorosas.

Aperto a pega da mala com força.
Estou agora só, sem calor...
Dou passos mentais,
Que me esgotam.

O cansaço prevalece
Neste corpo imundo...
O comboio apita,
São horas de partir...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Junto ao ribeiro

Junto ao ribeiro,
´Por entre linhas de árvores desalinhadas,
Me sentei, olhando,
Contemplando a água imortal.

Por entre devaneios
E sonhos infinitamente frustrados,
Vi as folhas,
Vi a luz.

Nos raios que me alouravam a fronte,
Que me lavavam a alma,
Senti uma ponta de pudor,
Uma ponta de censura.

Sorri...
As algas baloiçavam,
Submissas à corrente,
Esverdeadas na sua lentidão.

A terra estava húmida
E o seu odor,
Majestosamente inebriante,
Entorpeceu-me a razão.

Ah, pudera eu
Ficar eternamente entorpecido,
A salvo do que sou,
Refugiado no que não sou.

Para sempre sem escolhas,
À deriva no inconsciente,
Quero ficar,
Quero viver.

A pedra está fria.
A água varre os meus passos.
Sou efémero,
Inútil em todo o movimento.

A luz é morna...
Embala-me o espírito.
E aqui estou, à beira deste ribeiro.
Amando o finito.

domingo, 30 de outubro de 2011

Imperfeição

Somos imundos.
A nossa carne apodrece.
Fica apenas cinza,
Odor que entorpece.

Somos incompletos,
Imperfeitamente desenhados.
Fomos perfeitos.
Somos indesejados.

Somos um puzzle inacabado...
Peças aleatoriamente dispostas.
Sem um plano de reserva,
Tudo nos virou costas.

Somos despojos.
Restos de algo superior.
Somos fracos.
Existe apenas dor...

Mendigo

Flui a emoção
Deste abraço cego,
De um soluço emocional,
De algo que eu nego.

A ponta da sola
Empurra-me sem remorsos.
Tudo são formas,
Tudo são esboços.

Sombras que marcam
A escuridão inebriante.
Algo flui do coração
Algo me deixa distante.

Sou efémero,
Inútil na minha utilidade.
Seguro de ser perene
Inseguro da minha vaidade.

Foge,
Eu fujo contigo.
Estarei só.
Serei um mendigo...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tempo

Jovem és,
Velho serás,
Sorriso efémero
Que nas memórias jaz.

Lembranças ténues
De tempos passados.
Vontades esquecidas,
Choros abafados.

Garras imbatíveis
Do tempo que nos rodeia.
Ampulhetas em queda,
Palavra que escasseia.

Sangue morto
De mágoas envenenado.
Um dia acordarás
E estará tudo terminado.

Talvez ainda seja cedo,
Para perceber tal verdade...
Mas ainda há tempo.
Falta é vontade...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ilusões

A criação é destruição.
Partindo do inútil,
Complicando o fácil,
Criando o fútil.

Iludindo a mente
Para acreditar,
Que o simples
Pode significar,

Algo mais de útil,
Algo de profundo.
Talvez seja ingénuo,
Ao crer em algo moribundo.

Caminharás em ilusões,
Em construções mentais
De uma coisa inexistente.
Sofrerás mais.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Caminho

Caminho. Não dei pelo tempo passar, nem pelo espaço a movimentar-se. Caminho somente. A chuva limpa o caminho, abençoa os passeios e absolve os meus pecados. É noite. Faz frio. O vento implacável arrasta as folhas soltas, mortas, como se nunca tivessem existido. Da terra vieram e para a terra voltarão. Ninguém irá sentir a sua falta. Quanto muito, alguém irá passar pela árvore agora despida e dirá, "As folhas já caíram... Ficam tão tristes as árvores, assim, vulneráveis...". Mas ninguém irá dizer, "Onde está aquela folha? Sinto mesmo falta dela..." Folhas são folhas e homens são homens.
As luzes estão ligadas, mas de pouco me servem. O meu caminho é tenebroso, escuro e traiçoeiro. Mas pouco me interessa... Para quê caminhar, se não há nada que nos faça querer fazê-lo? Correr por gosto não cansa? Mentira, cansa mais do que se caminharmos por algo. E esse é o meu problema: Não quero caminhar sozinho... Quero alguém que me sussurre, "vai ficar tudo bem", quero alguém que me diga que eu vou conseguir... Mas sei que volto para casa e não está lá ninguém. É frio e inóspito. A cama está fria. Eu estou frio.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Refúgio

Numa rocha erodida,
Pelas garras implacáveis do tempo,
Sentei a minha alma,
À espera de melhores dias.

Parti incompleto,
Leve em demasia...
Senti a falta da minha carga.
A felicidade passou a alegria.

Talvez um dia lá volte...
A esse local inospitamente abandonado.
Será que ainda me espera?
Quero voltar a ser pesado.

Beijo

Não tanto uma união,
Como um silêncio forçado.
A ordem de acção
É calar o coração...

Ceder ao ser incompleto,
Uma parte inacabada...
Peça de puzzle deslocada,
Conta apenas o vazio.

Fuga salivar
De realidades hostis...
Subterfúgios corporais
De felicidade, nada mais...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Más notícias

Talvez ainda esteja a viver naquele momento doce, que antecede a tomada de consciência de algo que nos magoa. O que provocará tal negação de uma realidade dolorosa? Será o nosso orgulho ferido, será a nossa carapaça emocional? Quiçá...
Mas penso que a grande questão é a adaptação. Com o devido tempo, qualquer pessoa, qualquer coisa, se adapta às novas condições. Algo triste de se dizer, sim, mas essencial para sobrevivermos, emocionalmente falando.
Mas como sair deste estado? Porque sentir a angústia é necessário, para crescimento mental. Como aceitar algo a que nós tentamos fugir, como aceitar a dor que nos atormenta? O grande problema deste meu idealismo, deste meu devaneio, é que existe uma premissa essencial a todo o funcionamento deste teorema: a total honestidade do ser humano. Como poderemos sentir algo que não queremos sentir, se não formos honestos connosco, com os nosso ideais, com a nossa mente? Daí esta ilusão de indiferença, que acompanha os dias após uma ominosa notícia.
Não se trata, então, de uma indiferença, de orgulho, de carapaças emocionais. Trata-se de uma mentira que nós colocamos, implantamos, para podermos viver normalmente. A vida não pára, não esperam por nós as engrenagens que regem os nossos destinos. Há que seguir em frente, que o bem comum pode mais que o bem individual. São artimanhas que advêm do dito desenvolvimento humano e comunitário, mas que se tornaram essenciais.
Idealismo que aqui prego, sem os seguir. O grande dito dos padres, "Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço", aplica-se com toda a popa e circunstância. Digo, mas não faço, nem quero fazer. Há que ser alegre, há que ser agradável. Não nos questionemos, não ponhamos em causa os sentimentos que nos definem e que brotam do âmago do nosso ser.
Será que ao questionar, estaremos a ser honestos? O que é ser honesto connosco? Vivemos em ignorância, em desacordo com a nossa razão. Passamos a ser, não o que queremos, mas o que querem que nós sejamos.

sábado, 8 de outubro de 2011

Einstein's dead

Quantum particles
Of predective movement.
Created darkness
With the brightness.
Playfull wormholes
Of other fabrics -
Space-feelings -
Undetermined equations.

Laws to be broken,
Errors that are fine.
Relativity of the certanty.
Einstein's dead.

Lapidated core
Of subatomic questions.
Macro-anwsers,
Nano-knowledge.
Collision of fractals,
Fibonnacci's irregularities.
The apple doesn't fall.
The Eartg goes right through it.


Laws to be broken,
Errors that are fine.
Relativity of the certanty.
Einstein's dead.

Einstein's dead.
Einstein's dead.

Lesbian love

Two that don't become one,
Bodies that don't unite.
Let's stay apart,
Let's be the "I" in lesbian.

A better understanding,
The greatest understatement.
A greater connection,
Without the connector.

What is there to know?
Your body is just like mine.
There is more than just atraction.
You can call it love, that's fine.

Unbounded kisses,
Known movements.
There is no puzzle,
My body is our temple.

The muscle memory is the same.
We don't give to much.
Maybe there can be a little help.
Our love doesn't seem enough.


What is there to know?
Your body is just like mine.
There is more than just atraction.
You can call it love, that's fine.

Jungian considerations

Swelled vessels,
Explosions of the heart.
The playing isn't enough,
I need more.
It does restrict me,
This fear of overacting,
Overreacting from within.

The clicks have been to much,
Places we can't understand enough.
Maintain the connection,
Restore the reflection,
Avoid misconception,
Endure creation.

Deep lying mortality,
Repressed in its core.
Twisted fate on the rails,
Today, there are no bails.

Fallen from the earth,
Rejecting things above.
The timing was wrong,
But the words are right.
Fallen compasses,
Metric rullers,
Let there be light.


The clicks have been to much,
Places we can't understand enough.
Maintain the connection,
Restore the reflection,
Avoid misconception,
Endure creation.

Deep lying mortality,
Repressed in its core.
Twisted fate on the rails,
Today, there are no bails.

Meditações

Peso exacerbado
De algo que não foi construído,
Tudo é destruído.
Destitui o cargo,
Passou a dor.
O sábio vê, mas não olha.
Caiu a folha.

Quebrou-se o fulgor,
Deste tambor ominoso.
O olhar é criminoso.
Quem queremos enganar?
Sobe mais alto,
Acelera a tua descida.
Rebentou a esperança inatingida.

As ondas do solo parado,
Engolem o meu suspiro.
Voltarei ao meu retiro.

Sem título #1

Ripple marks upon your teeth,
Engage you with the light.
Remember all the broken pieces.
That surround you in the night. time.
You wake up and close your eyes,
You should know where to go.

I walk today,
Through the tenses that define our life.
We woke and said,
That this will be our last time.
I walk today,
And remember the fire in your eyes.
I drowned again
In a ship of broken smiles tonight.

Around me are these shallow eyes,
Pulling me down.
Breaking through the dark ahead,
Going all the way around.

Sweaty palms hold me tonight,
Through the fire of delight.
Ride this wave of solitude
Drowning in despair
Joining heart with other dreams
Divided by the light.


I walk today,
Through the tenses that define our life.
We woke and said,
That this will be our last time.
I walk today,
And remember the fire in your eyes.
I drowned again
In a ship of broken smiles tonight.



Around me are these shallow eyes,
Pulling me down.
Breaking through the dark ahead,
Going all the way around.

Refractions

The light's out
The sheets are divided.
Message shows,
We are strangers to the night.
It's broken,
It wans't ever tied up.
The silence is our friendliest thing,
Time to get out.

Couches full of fight,
Once filled with faith.
Broken mirrors might
Show uns how to levitate.

Closed into a shell
Of broken glass,
Don't scrape your knees.
The feeling is gone and I'm here,
Filling up the void.
I was connected to the unknown,
The rope was broken.
And I'm here,
Looking through shattered memories.

This our last trip,
Our feelings will subside.
The end is the only way,
We can't fight over time.
We're shipping to sea,
We're sailing apart,
And leaving town,
We're shipping to sea.

sábado, 23 de julho de 2011

Oposição

Num abraço cego, senti o seu cabelo. Era tarde, cerca de cinco whiskeys e muitos sorrisos. Olhares esguios que se cruzavam, se buscavam na multidão. Sabíamos o seu significado, sabíamos o desfecho destes jogos estratégicos. Ninguém era derrotado, simplesmente, rendíamo-nos os dois. Após duras batalhas, estas tréguas pareciam vindas do céu. Mas logo se transformavam em golpes de "kung fu" verbal, pontapés emocionais. O tratado de paz acabava e voltavam as batalhas. Sabíamos que nos destruiríamos um ao outro. Mas também sabíamos que naquele momento em que os nossos se cruzassem, que seria diferente de tudo o que tinhamos sentido até àquele dia. Por sermos diferentes, por sermos contrastantes, por nos odiarmos, amavamo-nos mais, sem nenhum de nós aguentar o outro.
No final dessa noite, levei-a a casa, beijei-a, decidido a não ceder aos meus desejos carnais, inerentes à nossa frágil condição humana.
Senti o seu toque adamascado, o seu cabelo vitreamente loiro a acariciar o meu rosto. Não pensei, não questionei. Deixei os impulsos tomarem conta de mim, com um prazer culpado.
Acordei e vi-a deitada no meu peito. O quarto estava pesado, cheirava a ódio tingido de alegria. Acariciei o seu rosto e levantei-me. Vesti a camisa, vesti as calças, calcei-me e saí. Cheirava a ela. Isto irritava-me. Odiei-a por me amar e odiei-me por a amar. Jurei que nunca mais!, sabendo que bastava um olhar para voltar a ceder às suas tentações.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cristalizações

Se a noite láctea
Mostra a sua cara.
Damasco vivo,
Dor branca.

Falso consolo,
Novo ombro.
Novas lamúrias,
Velhos conselhos.

Mas se a luz não for para todos?
Se o Sol nascer diferente?
Vai ao fundo
E emerge negro.

Clara luz,
Claro escuro.
Certas caras,
Certos muros.

Acena o dedo
Num gesto fugidio
Corpo escondido,
Movimentos esguio.

Natureza animal
Negro cristal,
Velho metal.
Cristalização fraccionada da alma.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Razão Animal

Fechamos os olhos
Escrevemos confissões.
Falamos de cabeça
Faltam-nos os corações.
Tentamos demais
Abandonamos depois.

Deixa voar o corpo alado
Sem regressões,.
Subir mais alto,
Deixar pseudo-evoluções.
Esquecer os demais
Demonstrar como nos retrais.

Razão animal
Equilíbrio cristalino
De limite fino
Pronto a quebrar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Humanidades

Erros múltiplos na criação do aspirante ao perfeito, que não passa disso, aspirante. Eternas provocações, internos conflitos, despiques territoriais da alma. Sem admitir a mudança, arrependendo-se da teimosia, andamos tapando os buracos num navio de casco estilhaçado. Empurrões silenciosos, afastamos o que interessa, prendemo-nos ao fútil, superficial. São necessárias, sem dúvida, estas características. E por serem necessárias, é que todos nós nos tornamos em mestres da arte de varrer para debaixo do tapete, já dizia Bergman, o grande poeta visual. Mas o tapete ganha relevo, o lixo emocional acumula-se. Compramos ambientadores para esconder o fedor de tanto lixo. Mas chega uma altura em que é necessário despejá-lo. Mas não somos limpos, ou não seríamos animais de impulsos. Sujamos, conspurcamos o que outrora era puro e imaculado. E esta epidemia espalha-se cruelmente e impiedosamente a tudo o que não é detrito. Quem estraga tudo? Quem erra, quem sofre por errar? Nós, os humanos, chacais emocionais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Contornos

Despojos da alma, dejectos criativos que fluem deste cérebro, deste criador destruidor de ideias. Uns nascem, outros morrem, como seres sujeitos aos caprichos infantis da mãe Natureza. Sim, sou um capricho, mas sei que não o devia ser, que entendo melhor algo que não deve ser entendido. Mas não percebo esta brincadeira a que chamam viver. Não somos vivos, somos seres animados. Precisamos de algo mais para viver. O quê? O que precisa a nossa alma, que elixir precisa para sentirmos a doce felicidade de viver? Somos nós os Marcos Polos da nossa alma, somos nós os descobridores da sua palavra santa. Temos escrituras, uma bíblia dentro de nós. Somos todos um pouco doidos, todos um pouco ingénuos, mas todos iguais. Quem tem a sorte de perceber as suas escrituras e tornar-se um teólogo de si mesmo, será melhor, será mais forte, será mais alegre. Porque se não percebemos as nossas escrituras, como poderemos ousar conhecer as escrituras deste trabalho maior? A emoção flui e somos movidos por este vício, esta droga. São distracções, meramente. Eleva-te, percebe-te, constrói-te e posteriormente, destrói-te, refaz-te...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Começos

Sob a luz vaga e moribunda deste portal, crio, construo, destruo e desfaço. Destoam cores, sentimentos, emoções. O mar de ideias fervilha, cada uma borbulhando mais do que a anterior. Estou só, criando, desesperando criativamente, chutando palavras, na tentativa de marcar o golo. E aqui vos falo, com muitas palavras, pouco dizendo, mas muito sentindo.